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domingo, 2 de setembro de 2012

Dinossauros que ainda batem muito


ANDRÉ COÊLHO

Uma produção hollywoodiana beirando o tokusatsu com um elenco de alto nível e texto impecável. É assim que "Os Mercanários 2" se apresenta dois anos após o lançamento do primeiro filme da franquia, em 2010. O roteiro conta com frases de efeito e jargões colocados de modo a contruir um filme engraçado, mas ao mesmo tempo intenso, ao gênero de Stallone.
Divulgação
Mesmo assim, não comete o mesmo erro visto em "Os Vingadores", onde a estratégia ficou piegas e resultou em uma obra onde o pano de fundo de humor pastelão não refletiu a seriedade dos filmes dos personagens principais, como "Capitão América" e "Thor". Nesse aspecto, ponto para o diretor Simon West.

A obra repete os erros de iluminação vistos no primeiro filme. Em alguns momentos, é até difícil distinguir o que se passa na tela. Mesmo assim, a combinação da coreografia e os efeitos visuais (com destaque para o banho de sangue à la Tarantino) fazem com que seja impossível não aproveitar cada uma das cenas de ação.

Outra falha da direção é fazer uso de uma ideia cada vez mais popular nos filmes de pancadaria que é transmitir para a platéia todo e qualquer impacto das cenas através de movimentos constantes com a câmera, no limite do descontrole. Por mais que a sensação de realidade seja maior, a compreensão da cena é afetada. Um deserviço bobo. Mero luxo.

Ao somar todos os erros, não há grande dano aos fãs de Sylvester Stallone, Jason Stataham e Arnold Schwarzenegger. Stataham, aliás, se destaca entre os companheiros de elenco, assim como a entrada triunfal de Chuck Norris na tela. Uma cena para entrar para a história da carreira do ator.

Com uma trama inteligente, excelente script e elenco brilhante, "Os Mercenários 2" mostra que um clássico pode ser reconstruído de diversas formas, onde receitas de sucesso exploradas ao longo de décadas podem gerar um resultado mais moderno do que se imagina.

Outra lição passada pelo filme é que não se deve subestimar o talento dos dinossauros, por mais interessantes que os novatos do cinema possam parecer. Quem realmente teve talento um dia, terá talento para sempre. Não importa quantas fornadas de galãs instantâneos surjam. Como é dito no filme, "nada melhor que um clássico".

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dez dias de crise e um destino ainda incerto

Desde o início do governo do prefeito Jorge Mário Sedlacek, a população e a imprensa de Teresópolis começaram uma luta de mais de dois anos para derrubá-lo. A corrupção descarada, a falta de vergonha, humanidade e respeito ao povo foram as marcas do reinado de terror daquele que será eternamente lembrado como o pior prefeito do município. Uma cidade pacífica conheceu o caos político administrativo nas mãos de um desqualificado sem consciência. Mas a luta contra Jorge Mário acabou por se tornar uma luta pró - Roberto Pinto.
O ódio a Jorge Mário, cujo governo era rejeitado por 92% da população, de acordo com pesquisas dos jornais locais, se transformou em carinho e respeito por Robertão. Médico, empresário e professor que começou a carreira em profissões que variavam de office boy e até lutador de telecat, Dr. Robertão foi um político honesto e fiel ao povo até o fim. A principal preocupação do prefeito interino, que morreu 44 horas após assumir o cargo, era garantir auxílio de psicólogos e assistentes sociais aos desabrigados da tragédia de 12 de janeiro na cidade.
Além disso, o prefeito Robertão buscava formas de pagar os próximos salários dos servidores municipais, já que não há recursos disponíveis na Casa Rosada. O problema continua sem solução e passa agora às mãos do prefeito Arlei Rosa. O novo chefe do executivo une a esperança de cidadãos oprimidos e humilhados a um futuro nebuloso. O passado conturbado de Arlei e a omissão da câmara de vereadores durante os dois anos e oito meses de atrocidades da prefeitura levam o povo a duvidar do potencial do novo governo interino.   

Ao contrário do que a maioria acredita, não serão convocadas novas eleições em 30 dias. O prefeito Arlei governará durante os 90 dias de afastamento de JM, que podem ser prorrogados por mais 90 dias, totalizando seis meses. Ao final do processo de investigação, ou o governo retornará para as mãos do mandatário afastado ou a câmara cassará o mandato do prefeito.
Se a cassação ou renúncia ocorrer de forma que as eleições possam ser realizadas antes de 31 de dezembro de 2011, a cidade vai às urnas em eleição direta. Porém, se JM perder o mandato ou renunciar após 01 de janeiro de 2012, a eleição será indireta na câmara municipal. As chances de outro legislador assumir o Palácio Thereza Cristina são nulas, o que manteria Arlei na prefeitura por mais um ano.
A ascenção do grupo político (ou ao menos parte dele) do ex – prefeito Roberto Petto, com a posse de Arlei, representa uma pequena vitória para o PMDB, último colocado nas eleições de 2008. Entretanto, o ânimo no partido é controlado, já que a orientação é aguardar o resultado da gestão provisória com cautela, sem grande empolgação. Talvez esse tenha sido o principal erro da administração do PT em Teresópolis: pensar que apenas com alarde e propaganda conseguiriam ludibriar 163 mil pessoas.
A frustação é um sentimento comum em Teresópolis desde 2009, assim como a insegurança. O fato de acordar e não saber qual a próxima punhalada se tornou algo rotineiro. Mas não precisa ser assim eternamente. A dignidade de uma cidade inteira está em jogo a cada passo dos três poderes. Nada é garantido, apenas o desejo universal de justiça: que Jorge Mário Sedlacek e seus aliados paguem por sua gestão criminosa.

Foto: Luciano Zimbrão  

quinta-feira, 16 de junho de 2011

De volta ao batente

Cresce o número de idosos que retornam ao mercado de trabalho depois da aposentadoria




André Coelho e Mário Cajé

O avanço da medicina e da tecnologia farmacêutica são responsáveis pelo crescimento da expectativa de vida da população mundial. Estimativas do Censo realizado pelo IBGE no ano passado mostram que atualmente a média de vida da população no Brasil é de 73 anos, sete a mais  do que se esperava que uma pessoa vivesse em 1991, por exemplo. Além de viver mais, o brasileiro tem vivido melhor. Isso contribui para que mais idosos permaneçam ou, em muitos casos, retornem ao mercado de trabalho. De acordo com a legislação brasileira, qualquer pessoa com mais de 60 anos de idade é idoso.
            A principal razão da permanência dos aposentados no mercado é o baixo rendimento das aposentadorias. “A previdência não tem sido suficiente em termos de oferecer um montante de renda adequado para a sobrevivência”, afirma Danielle Carusi, pesquisadora do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento da UFF. É o caso da auxiliar administrativa Maria Rita Rivero. Aos 69 anos, Maria, que se aposentou em 1997, não pensa em parar de trabalhar.“O salário ajuda bastante. Se não trabalhasse, teria problemas financeiros”, disse.
            Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de 2009 estimam que os idosos já representam 11,4% da população. Projeções mostram que a faixa etária corresponderá a cerca de 15% da população, em 2020. Enquanto em 1992, 39% dos idosos estavam no mercado de trabalho, em 2009, esta porcentagem pula para 45%.  Assim, o envelhecimento populacional e a volta de aposentados ao mercado já afeta a composição etária da População Economicamente Ativa (PEA). “As vagas do mercado de trabalho podem estar sendo alocadas para os mais velhos em detrimento dos jovens. Em um contexto de baixo dinamismo da economia isto pode gerar uma redução na oferta de vagas dos trabalhadores mais novos”, diz a pesquisadora.
            Quando as possibilidades no mercado formal se esgotam, muitos trabalhadores acabam na informalidade. O porteiro Raimundo Wenceslau, de 61 anos, está a quatro anos da aposentadoria, mas pretende continuar trabalhando informalmente. “Não posso me dar ao luxo de parar ainda. Não conseguiria sobreviver com os descontos sobre o pouco que ganho. Planejo abrir um bar depois de largar a portaria”. Os descontos aos quais Raimundo se refere são fruto do fator previdenciário, uma base de cálculo usada pelo INSS que resulta em redução do salário do aposentado em comparação com o trabalhador da ativa. Isso acontece quando a pessoa resolve se aposentar antes de completar o tempo exigido pela Previdência.
            Questões financeiras à parte, há quem defenda que o trabalho é essencial para a manutenção da saúde. “Trabalhar faz bem para o corpo e para a mente. Se tivesse optado por ficar só em casa, não estaria tão bem como estou”, comemora Maria Rita. Raimundo também vê com entusiasmo a permanência no trabalho: “Tudo o que você faz com felicidade é bom. Tudo. Com meu trabalho é assim. Não vejo expectativas em uma vida sem uma ocupação”.
            Mesmo levando em conta a disposição dos trabalhadores em retornar à ativa, é necessário que o Poder Público se adapte às transformações que a composição da PEA vem sofrendo. “Esse processo gera uma mudança nas políticas públicas, já que este grupo requer alguns atendimentos muito específicos, tais como os relativos à saúde”, completa a professora da UFF.
            Existem duas formas principais de aposentadoria no Brasil: integral ou proporcial. Para ter direito ao benefício integral, o trabalhador homem deve comprovar pelo menos 35 anos de contribuição e a mulher, 30 anos. No caso do benefício proporcional, é preciso que os homens tenham pelo menos 53 anos de idade e tenham trabalhado por, no mínimo, 30 anos. Já as mulheres precisam ter 48 anos de idade e ter contribuído por 25 anos ao INSS. Para mais detalhes, a Previdência Social disponibiliza um canal de atendimento por meio do telefone 135 ou através da página www.previdenciasocial.gov.br.





           


quarta-feira, 27 de abril de 2011

The life of a young storyteller

For the photographer Corinne Dufka, no photo is worth the life of the correspondent. The film "Dying to tell a story" is about this idea from the perspective of Amy Eldon, who directs the documentary. Amy interview brilliantly photographers from different countries while traveling to Somalia in search of answers about the death of his brother, Daniel Eldon, a photographer for Reuters, killed at age 23 while covering the war in the African country. 
       Africa was an essential element for Dan's life, who grew up in Kenya next to Amy and family. The director stresses the love that her brother felt for the continent, which increases the sensitivity month to the viewer throughout the production. Even without any formal training in journalism, a passion for photography and love of Africa, who lived intense military conflicts in the early '90s, led Dan to become a correspondent for Reuters.
                                  

       For photographer Des Wright, something remarkable in the work of a war correspondent's is the personal safety. The integrity of the reporter is the priority for this type of coverage, in the midst of a scenario like Somalia, where, to Wright, the hate was amazing. For him, the photographs conveyed the images, but the smell was really impressive in the midst of so many civilian deaths. In fact, it is more realistic if compared to a photo or story, the emotion felt when witnessing the conflict outweighs any coverage. 

       Carlos Mavroleon says the camera is able to keep the photographer witnessed lightly insulated from reality. Still, the small distance is not sufficient to fully protect the corresponding of the war scenario and the suffering of local people. The journalist's opinion reiterates the fact that the correspondent is, above all, a sensitive man. Mavroleon, who died in 1998, said feel, not as a human being, but like a vulture over a coverage as the civil war in Somalia. 


       The British journalist Martin Bell, a veteran of war coverage, defines the joy of being shot and get away as a source of satisfaction. For Bell, who has been injured during the Bosnian war, the journalist is also affected in the conflict and the act of protect themselves with jackets, for example, is a sign of cowardice. The rush is also a dangerous defect for those who dare this kind of work. Anxiety, something that is common for beginners in this job, also affects the veterans before such extreme situations, which is risky. 
                                  
  Mohamed Shaffi, correspondent who witnessed the death of Dan Eldon, clashes with the cruelty of filmmakers during the war in Eritrea, for example. After a village was bombed, wounded children were taken to a house where they rested in the dark. Shaffi turned the lights of the cameras to film them, which caused severe pain in those kids. The experience traumatized Shaffi, which came to be more careful with their own footage, a basic requirement for any correspondent in the area of ​​litigation. 

            At the end of the documentary, Amy and Shaffi are in Somalia, where the reporter tell the director detailing the circumstances surrounding the death of her brother. Shaffi and Dan were attacked by a mob while covering a UN operation that left 74 civilians dead.Daniel and journalists Hansi Krauss, Anthony Macharia and Hos Mania died in that place. 

            The film depicts the story of a young man in love for the profession and the people who suffered in the poorest region in the world. "Dying to tell a story" shows the power range of journalism and photography, when executed with talent, but also illustrates the damage caused by the madness of civilians exposed to brutality. Daniel Eldon was a victim of a senseless conflict, risk experienced by all the war correspondents. Dan's life is an example of journalistic engagement, missing in the profession, and the massacre of reporters shows the trivialization of life, found in excess in society. 

                       


Photos: www.daneldon.org 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A vida de um jovem contador de histórias

          Para a fotógrafa Corinne Dufka, não há foto que valha a vida do correspondente. O filme “Morrer para contar uma história” trata dessa idéia através da perspectiva de Amy Eldon, que dirige o documentário. Amy entrevista brilhantemente fotógrafos de diferentes países enquanto viaja para a Somália em busca de respostas sobre a morte do irmão, Daniel Eldon, fotógrafo da agência Reuters, morto aos 23 anos enquanto cobria a guerra naquele país.
            A África era um elemento essencial para a vida de Dan, que cresceu no Quênia ao lado de Amy e da família. A diretora destaca o amor que o irmão sentia pelo continente, o que aumenta a sensibilidade passada ao espectador durante toda a produção. Mesmo sem nenhum tipo de treinamento formal em jornalismo, a paixão pela fotografia e o amor à África, que vivia intensos conflitos militares no início dos anos 90, levaram Dan a se tornar correspondente da Reuters.

            Para o fotógrafo Des Wright, algo marcante no trabalho de um correspondente de guerra é a segurança pessoal. A integridade do repórter é a prioridade para esse tipo de cobertura, em meio a um cenário como o da Somália, onde, para Wright, o ódio era espantoso. Para ele, as fotografias transmitiam as imagens, mas o cheiro era o que realmente impressionava em meio a tantas mortes de civis. De fato, por mais realista que seja uma fotografia ou reportagem, a emoção vivida ao presenciar os conflitos supera qualquer cobertura jornalística.
            Carlos Mavroleon afirma que a câmera é capaz de manter o fotógrafo levemente isolado da realidade presenciada. Mesmo assim, o pequeno distanciamento não é suficiente para proteger totalmente o correspondente do cenário de guerrra e do sofrimento da população local. A opinião do jornalista reitera o fato de que o correspondente é, acima de tudo, um homem sensível. Mavroleon, morto em 1998, dizia se sentir, não como um ser humano, mas como um urubu durante uma cobertura como a da guerra civil na Somália.
            O jornalista inglês Martin Bell, veterano de coberturas de guerra, define a alegria de levar tiros e sair ileso como fonte de satisfação. Para Bell, que já foi ferido durante a guerra na Bósnia, o jornalista também é afetado nos conflitos e o ato de se proteger com coletes, por exemplo, é um sinal de covardia. A afobação também é um defeito perigoso para quem se arrisca nesse tipo de trabalho. A ansiedade, comum aos iniciantes na profissão, também afeta os veteranos diante de situações tão extremas, o que é arriscado.

            Mohamed Shaffi, correspondente que  presenciou a morte de Dan Eldon, se choca com a crueldade de cinegrafistas, como durante a guerra na Eritréia, por exemplo. Após uma vila ser bombardeada, crianças feridas foram levadas até uma casa onde descansavam no escuro. Shaffi ligou as luzes das câmeras para filmá-las, o que provocou fortes dores nas crianças. A experiência traumatizou Shaffi, que passou a ser mais cuidadoso com as próprias filmagens, uma exigência básica para qualquer correspondente em área de litígio.
            No fim do documentário, Amy encontra Shaffi na Somália, onde o jornalista detalha para a diretora as circunstâncias da morte do irmão. Shaffi e Dan foram atacados por uma multidão enfurecida enquanto cobriam uma operação da ONU que deixou 74 civis mortos. Daniel e os jornalistas Hansi Krauss, Anthony Macharia e Hos Mania morreram no local.
            O filme mostra a história de um jovem apaixonado pela profissão e pelo povo sofrido da região mais pobre do mundo. “Morrer para contar uma história” exibe o poder de alcance do jornalismo e da fotografia, quando executados com talento, mas também ilustra o estrago causado pelo descontrole de civis expostos à brutalidade. Daniel Eldon foi vítima da insensatez do conflito, risco vivido por todos os correspondentes de guerra. A vida de Dan é um exemplo de comprometimento jornalístico, em falta na profissão, e o massacre dos repórteres mostra a banalização da vida, encontrada em excesso na sociedade.

               

terça-feira, 22 de março de 2011

O poste e a cidade de Tereza

Manifestantes foram às ruas de Teresópolis durante a semana passada para exigir a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e uma Comissão Processante na Câmara de Vereadores do município para investigar denúncias de corrupção na prefeitura. Quase 2 mil pessoas se aglomeraram em frente à Câmara na última terça-feira e, novamente, na quinta-feira. Durante o primeiro protesto, bombas de efeito moral foram atiradas na multidão por policiais da Força Nacional de Segurança, instalada no pátio entre a prefeitura e a casa legislativa desde a tragédia das chuvas em janeiro.
Pedras foram arremessadas contra as vidraças do plenário, o que obrigou o presidente da casa, vereador Arlei (PMDB) a encerrar a sessão. Na quinta-feira, policiais da tropa de choque da Polícia Militar protegeram os vereadores que, mais uma vez, não aprovaram o pedido de CPI. Ainda são necessárias duas assinaturas para que a comissão seja aberta e comecem as investigações contra o prefeito.

Desde o início do governo, em janeiro de 2009, o prefeito de Teresópolis, Jorge Mário Sedlacek (PT), protagoniza uma sucessão de medidas estúpidas e demonstra total falta de habilidade para a administração pública. O médico de 54 anos, eleito por representar uma mudança no rumo político da cidade, desperta a ira dos teresopolitanos que, nos últimos dois anos, só receberam inércia, má vontade e descaso do Palácio Tereza Cristina.
No momento catastrófico vivido por toda a serra fluminense após as chuvas de 12 de janeiro, Jorge Mário se aproveitou da exposição na mídia para se promover durante o estado de emergência, desfilando displicentemente por emissoras nacionais enquanto a população era abandonada à própria sorte. Denúncias apontam irregularidades em diversas ações do governo após a tragédia, inclusive na contratação de empresas para desbloquear estradas. O comportamento do prefeito foi coerente à postura adotada em toda a administração. Desde a posse, Jorge Mário foi envolto em um manto de privilégios, isolamento e suspeitas.

Com poucos meses de mandato, o prefeito, conhecido na cidade pelas dificuldades financeiras que enfrentava, se mudou para o condomínio milionário Vale dos Eucalíptos. Como se não bastasse, o atual endereço de Jorge Mário é o condomínio Península Ibérica, igualmente caro. Os dois condomínios são obviamente luxuosos demais para alguém que vive apenas do vencimento de prefeito.


Além da denúncia de "enriquecimento meteórico", a população de Teresópolis está insatisfeita com praticamente tudo o que foi feito pela prefeitura sob o comando de Jorge Mário Sedlacek. Atrasos nos salários e demissões aleatórias de servidores, extinção da secretaria de Defesa Civil (em uma cidade com histórico em deslizamentos de terra), paralização das obras do hospital municipal, obras inúteis e mal executadas no centro, abandono das vias públicas ao ponto de se tornarem intransitáveis, e, acima de tudo, descaso generalizado com o povo. 
 A lista de críticas ao governo Jorge Mário é imensa. Porém, nada supera a ironia grotesca entre a realidade vivida por Teresópolis e o slogan da prefeitura: "Cuidando bem das pessoas". Nesta terça-feira (22) mais um protesto está marcado para o mesmo horário da sessão plenária da Câmara. Resta aguardar se mais dois vereadores assinarão o pedido de CPI para, posteriormente, cassar o mandato do prefeito, que é o desejo dos teresopolitanos. Os manifestantes escolheram a palavra perfeita para definir o sentimento de todos os moradores de Teresópolis após dois anos de desgoverno: "Chega!". 

Fotos:
Reginaldo da Cunha Gonçalves (G1)

terça-feira, 1 de março de 2011

O fim de um silêncio de quatro décadas

A onda de protestos que se espalha pelo mundo árabe pode ser classificada, minimamente, como tardia. A população de países como Egito, Tunísia, Líbia e Yêmen é oprimida a tempo demais para se rebelar apenas em 2011. Mas é compreensível o temor de um povo governado por ditadores violentos como Muammar Kadhafi, por exemplo, em se voltar contra os governos tiranos.
Em comparação ao caos e a história de dominação política vivida pela Líbia, o que foi visto no Egito não foi grave. Perto de Kadhafi, Hosni Mubarak pode ser chamado de democrata. O desafio da Líbia é muito mais árduo e perigoso do que o de muitos vizinhos da região. A situação no país chegou a um nível alarmante de descontrole, o que deixa o resto do mundo sem saber como agir para ajudar a população local.
A eminência de uma guerra civil e crimes genocidas cometidos durante os protestos reforçam a situação de desgoverno e reiteram a fraqueza da ONU e das grandes potências, que não conseguem intervir. A pouca moral da ONU é consequência da inércia da organização durante a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003. A falta de ação das Nações Unidas naquele ano iniciou um histórico de desrespeito à entidade e não haveria porque ser diferente nesse caso.
A postura dos Estados Unidos durante os protestos do Egito foi distinta das ações do país diante da crise na Líbia. No caso de Mubarak, a população egípcia derrubou um aliado americano. Washington se viu calada, sem saber como agir. "Pisar em ovos" foi a estratégia principal da Casa Branca e do Departamento de Estado para lidar com os protestos.
Já a possibilidade, por menor que fosse, de queda do ditador Kadhafi é um presente para o presidente Barack Obama, que "exige" a renúncia imediata do líder líbio. A revolução no mundo árabe, no primeiro caso, destruiu um aliado americano e, no segundo, pode ser responsável pela realização de um sonho dos Estados Unidos: se livrar de Muammar Kadhafi.

O presidente da Líbia ficará apenas nos livros de história se a oposição resistir no controle de cidades importantes e dos poços de petróleo do país. O problema é o que Kadhafi fará enquanto ainda detém poder, mesmo que em declínio. A alternativa para evitar um derramamento de sangue e consolidar a revolução seria um golpe militar temporário. Mas enquanto Kadhafi tiver a lealdade do exército, isso é apenas um ideal.
A espera pelos próximos acontecimentos é pior a cada dia, conforme aumenta a tensão em Tripoli e no interior do país africano. Infelizmente as ações internacionais possíveis são poucas. Sanções e bloqueios já foram implementados e uma ação militar estrangeira não solucionaria o problema. O campo de ação externa é limitado, o que deixa a Líbia à própria sorte.  
 Essa revolução pertence ao povo líbio e pelo povo líbio deve ser conduzida. Mas não se pode esquecer que o exército, ferramenta capaz de encerrar a crise, também é parte do povo. Passou da hora dos militares decidirem a quem servem: a um ditador antiquado e detestado globalmente ou à uma população sedenta por liberdade. Não é um dilema difícil de ser solucionado. Resta saber quando terá fim.
Fotos:
BBC
AFP