A onda de protestos que se espalha pelo mundo árabe pode ser classificada, minimamente, como tardia. A população de países como Egito, Tunísia, Líbia e Yêmen é oprimida a tempo demais para se rebelar apenas em 2011. Mas é compreensível o temor de um povo governado por ditadores violentos como Muammar Kadhafi, por exemplo, em se voltar contra os governos tiranos.
Em comparação ao caos e a história de dominação política vivida pela Líbia, o que foi visto no Egito não foi grave. Perto de Kadhafi, Hosni Mubarak pode ser chamado de democrata. O desafio da Líbia é muito mais árduo e perigoso do que o de muitos vizinhos da região. A situação no país chegou a um nível alarmante de descontrole, o que deixa o resto do mundo sem saber como agir para ajudar a população local.
A eminência de uma guerra civil e crimes genocidas cometidos durante os protestos reforçam a situação de desgoverno e reiteram a fraqueza da ONU e das grandes potências, que não conseguem intervir. A pouca moral da ONU é consequência da inércia da organização durante a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003. A falta de ação das Nações Unidas naquele ano iniciou um histórico de desrespeito à entidade e não haveria porque ser diferente nesse caso.
A postura dos Estados Unidos durante os protestos do Egito foi distinta das ações do país diante da crise na Líbia. No caso de Mubarak, a população egípcia derrubou um aliado americano. Washington se viu calada, sem saber como agir. "Pisar em ovos" foi a estratégia principal da Casa Branca e do Departamento de Estado para lidar com os protestos.
Já a possibilidade, por menor que fosse, de queda do ditador Kadhafi é um presente para o presidente Barack Obama, que "exige" a renúncia imediata do líder líbio. A revolução no mundo árabe, no primeiro caso, destruiu um aliado americano e, no segundo, pode ser responsável pela realização de um sonho dos Estados Unidos: se livrar de Muammar Kadhafi.
O presidente da Líbia ficará apenas nos livros de história se a oposição resistir no controle de cidades importantes e dos poços de petróleo do país. O problema é o que Kadhafi fará enquanto ainda detém poder, mesmo que em declínio. A alternativa para evitar um derramamento de sangue e consolidar a revolução seria um golpe militar temporário. Mas enquanto Kadhafi tiver a lealdade do exército, isso é apenas um ideal.
A espera pelos próximos acontecimentos é pior a cada dia, conforme aumenta a tensão em Tripoli e no interior do país africano. Infelizmente as ações internacionais possíveis são poucas. Sanções e bloqueios já foram implementados e uma ação militar estrangeira não solucionaria o problema. O campo de ação externa é limitado, o que deixa a Líbia à própria sorte.
Essa revolução pertence ao povo líbio e pelo povo líbio deve ser conduzida. Mas não se pode esquecer que o exército, ferramenta capaz de encerrar a crise, também é parte do povo. Passou da hora dos militares decidirem a quem servem: a um ditador antiquado e detestado globalmente ou à uma população sedenta por liberdade. Não é um dilema difícil de ser solucionado. Resta saber quando terá fim.
Fotos:
BBC
AFP
AFP
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ResponderExcluirConcordo totalmente quando vc trata do despretígio - merecido - da ONU e da necessidade da tão sonhada revolução ser desenhada pelo povo líbio, com sua cara e atendendo aos seus anseios. É uma situação delicadíssima, de fato.
ResponderExcluirPara quem gosta do tema, existe um post a respeito no meu blog também.
Líbia: duas bandeiras, um país dividido.
http://www.mariocaje.blogspot.com