O seminário de jornalismo “Controversas”, da semana acadêmica de 2010 da Universidade Federal Fluminense, foi fiel ao nome com o qual foi batizado. Foram três dias de palestras e debates sobre temas fundamentais para a realização do bom jornalismo, tão escasso atualmente, durante os dias 9, 10 e 11 de novembro. E a primeira mesa de palestrantes, sobre jornalismo político, foi uma das que mais se destacaram, abrindo o evento em grande estilo e dando o tom das discussões futuras.
Entre os convidados estavam nomes como Chico Otávio, do jornal O Globo, um dos maiores repórteres de política do país. José Luiz Alcântara, do jornal O Estado de S. Paulo, e Paula Mairan, jornalista e assessora de imprensa do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), participaram do “Controversas” agregando ainda mais ao debate que discutiu de eleições às experiências pessoais de cada um.
Chico Otávio começou ressaltando a importância da editorianacional de Brasília, responsável por 80% do conteúdo de política que é publicado no jornal. Hoje, o jornal só possui dois repórteres de política no Rio de Janeiro. “Isso só mostra a pouca relevância da capital fluminense na política nacional atualmente”, disse Chico. Mas esse quadro muda bastante durante o período eleitoral.Para Chico, as eleições são como uma copa do mundo, uma Olimpíada para os jornalistas que cobrem política. A editoria recebe profissionais de outras editorias, o que garante maior atividade no setor. Mas mesmo assim, toda essa energia é canalizada para as eleições presidenciais. As eleições proporcionais para o Congresso e para as assembléias legislativas continuam secundárias para a cobertura da mídia, o que Chico espera que mude.
Tendo coberto oito eleições, Chico afirma que cada processo eleitoral tem sua característica específica. Nessa eleição, por exemplo, as redes sociais como o Twitter foram a grande novidade, mostrando como os editores ainda valorizam a velocidade e o furo. Isso sempre buscando encurtar a distância entre um fato e a divulgação desse fato, que ainda existe, apesar de todo o frenesi das tecnologias disponíveis no século XXI.
Em relação às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à imprensa durante a campanha eleitoral, Chico lamenta o fato de os jornalistas terem “ido para as trincheiras” por causa disso. O jornalista também lembra que a imprensa também foi criticada pela cobertura que fez, e não somente pelos políticos. Tentar reduzir todas as críticas a motivação política seria colocar a imprensa em uma posição privilegiada em que ela não se encontra.
José Luiz Alcântara, da sucursal carioca do jornal O Estado S. Paulo, começou a cobrir eleições em 1974, e lida com todas as editorias, não só com a de política. Para ele, na corrida presidencial de 2010 as propostas dos dois partidos não ficou clara. Foi uma campanha nebulosa em termos de idéias, mas concorda com Chico em relação a importância das redes sociais para a difusão de idéias e aproximação com o eleitorado, mesmo considerando que essa ferramenta também serviu para divulgar boatos.
Alcântara compara o baixo nível das eleições de 2010 à eleição de 1982 para o governo do Rio de Janeiro, onde Leonel Brizola foi vítima de perseguição e manipulação por parte da mídia. Esse tipo de problema poderia ser resolvido parcialmente se outras empresas adotassem a mesma atitude do Estadão, ao declarar abertamente apoio ao então candidato José Serra, do PSDB.
O jornalista afirma nunca ter sido pressionado na redação do Rio ou pelos superiores de São Paulo para favorecer nenhum candidato. Mesmo assim, reconhece que a impressão que se passou ao público foi de um apoio maciço das grandes empresas de comunicação ao candidato tucano, mesmo que isso não seja completamente verdade.
José Luiz Alcântara crê na necessidade de maior discussão sobre as futuras coberturas, já que em 2010 houve sério desgaste da imagem dos jornais. A jornalista e assessora de imprensa Paula Mairan também pensa desta forma, porém é favorável a que o apoio dos jornais se limite às páginas de opinião, para evitar a crescente editorialização da notícia.
O debate serviu para ampliar a discussão sobre o futuro do jornalismo político após o fracasso da cobertura das eleições 2010. Mesmo com toda a polêmica, Chico Otávio se diz satisfeito com seu trabalho cobrindo a campanha. Agora, é preciso reavaliar todos os métodos utilizados esse ano, para que os mesmos erros não se repitam, perpetuando as falhas da imprensa.
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