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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O fim da Era Lula

No dia primeiro de janeiro terminará mais um capítulo da história brasileira. Os oito anos da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegam ao fim com recordes em vários setores, como índices econômicos e sociais, por exemplo. A economia caminha, em passos lentos, mas constantemente, os mais pobres consomem e a arrecadação de impostos bate recorde. O cenário perfeito para qualquer presidente se orgulhar de um trabalho bem feito.

Lula termina o governo com uma popularidade de 87% e com resultados positivos, o que leva a crer que será eternamente lembrado como o melhor presidente do Brasil. Correto? Não. Com o passar dos anos, e com o calor das emoções diminuindo, Lula será visto como realmente é: um líder carismático que chegou à presidência do país e encontrou um projeto de Brasil novo, e tinha como responsabilidade maior dar continuidade às medidas iniciadas antes de 2003. 
Exceto o PAC, que é uma lista de obras, não um projeto articulado de investimentos, a maior parte das políticas desenvolvidas no governo do PT já haviam sido criadas ou, ao menos, projetadas pelos governos anteriores. Não é exagero afirmar que o trabalho do presidente Lula se resumiu a efetivar o trabalho de outros, e não o de reestruturar uma nação. 
Mesmo assim, é atribuído a Lula um crédito que não lhe pertence. Lula é visto como um salvador do Brasil, como um herói, justo e autor da maior socialização já vista no país. Na realidade, o brasileiro é ludibriado por uma (quase) falsa sensação de bem estar e, o tradicional imediatismo latino, canaliza para Lula os louros da vitória alheia.

De fato, Lula foi responsável pelo prosseguimento das políticas necessárias para a futura consolidação do Brasil como uma potência capitalista no cenário global. Porém, prosseguimento e criação dessas políticas são responsabilidades diferentes, e que exigem créditos distintos a diversos presidentes. O Plano Real foi, e continua como, o grande boom estabilizador da economia nacional. Para que fosse criado e posto em prática, foram precisos três presidentes. Se um título de melhor presidente da história existir, deve ser repartido entre Itamar Franco, inicialmente, Fernando Henrique Cardoso e, em menor escala, Luiz Inácio Lula da Silva.
O Brasil melhorou, graças aos três, mas quem se muda do Alvorada em dois dias é Lula. Deixa para trás um Brasil mais forte, mas também deixa desafios à presidente eleita Dilma Rousseff. Uma dívida pública crescente, ameaças de uma guerra cambial no início do governo, os cortes de gastos do PAC, além de erros do governo que aparentemente persistirão, como a política externa patética, que precisa urgentemente ser revista, uma máquina administrativa inchada e o fisiologismo político, que será agravado com o PMDB na vice-presidência.

Ao passar a faixa para Rousseff, Lula passa a ser ex. Essas duas letras poderosas determinam que o presidente não ocupa mais o gabinete do Planalto. Lula deve se lembrar disso, e resumir seu papel ao de liderança política e consultoria administrativa em todas as esferas, assim como fazem os presidentes americanos. Termina a Era Lula, começa outra página de um livro chamado Brasil. O objetivo da história não será o de desqualificar todo o trabalho de Lula, mas sim o de questionar sua grandiosidade. 
Fotos:
Wikimedia Commons 
gilgiardelli.com.br

Um comentário:

  1. "O objetivo da história não será o de desqualificar todo o trabalho de Lula, mas sim o de questionar sua grandiosidade". Essa seria, pra mim, a síntese do artigo. As ações do governo se desenvolveram muito no plano paliativo e, consequentemente, populista e talvez não tiveram tanta ressonância nas questões profundas e seríssimas da realidade social, econômica e política brasileira. Cabe a nós desejar que, com Dilma, o Brasil possa avançar em questões centrais e urgentes, como as reformas política e fiscal e a real melhoria na educação e saúde.

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