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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O trabalho sujo que alguém tem que fazer

O governo inglês anunciou nos últimos meses uma série de cortes de despesas públicas em diferentes áreas da administração. O ministro das Finanças, George Osborne, reiterou o objetivo do governo do Partido Conservador em reduzir drasticamente o déficit público do país, hoje por volta de R$ 400 bilhões. 

Os críticos das novas medidas argumentam que a ação do governo é puramente ideológica. A oposição acusa os Conservadores de tentar reduzir o tamanho do estado inglês, ao diminuir a área de atuação do poder público.
De fato, os cortes prometem consequências drásticas para o funcionalismo , com a previsão de perda de 490 mil postos de trabalho no serviço público até 2015. Além do desemprego generalizado, os mais pobres também aguardam um horizonte funesto, já que, em breve, os beneficiários de programas sociais da Grã-Bretanha serão encarregados de trabalhos braçais para o governo. A lista de atividades inclui tarefas como retirada de lixo e limpeza urbana por um pagamento de uma libra por hora. 
As medidas repercutiram de forma negativa, já que os pobres e os desempregados serão prejudicados. Sem dúvida, a prioridade de uma administração deve ser o bem estar social, de modo que os serviços públicos sejam de excelente qualidade e os benefícios assistencialistas funcionem como meio para garantir a igualdade de oportunidades de ascenção a todos. 
Entretando, o problema inglês é muito mais complexo para ser analisado apenas pelos cortes de verbas. Seja por ideologia, como acusa a oposição no parlamento, ou não, a redução de gastos feita pelos Conservadores, inclusive com folha de pagamento, é essencial para a recuperação econômica do país. 
As críticas têm fundamento, porém, os integrantes do Partido Trabalhista devem avaliar as atitudes do partido que governou a Inglaterra pelos últimos 13 anos. As gestões de Tony Blair e Gordon Brown, do Labour Party, merecem ser responsabilizadas pelo descontrole nas contas públicas inglesas.
Blair, exageradamente fiel ao ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, colocou o país em um conflito militar desnecessário, ao entrar na guerra do Iraque. O resultado foi a perda de vidas britânicas e o aumento nos investimentos militares. Os Conservadores já anunciaram que a Defesa vai perder 8% do orçamento no próximo ano fiscal. 
Brown também não exalava energia renovadora para transformar a economia e a política do país. No comando da última gestão Trabalhista, Brown tentou privatizar o serviço dos correios, processo que gerou bastante polêmica e mostrou que não são apenas os membros do Conservative Party os que pensam na iniciativa privada.
Efetivamente, os excluídos da sociedade não podem arcar sozinhos com a conta das péssimas administrações na terra da rainha. Porém, cortar gastos e reduzir o inchaço da máquina são medidas fundamentais para a estabilização de uma nação. Os Trabalhistas devem buscar amenizar os impactos sobre os pobres e se concentrar em apresentar ao governo uma nova política de inserção no mercado de trabalho para os desempregados.
Em meio a toda essa polêmica, um ponto agradou a todos: a saúde receberá mais dois bilhões de reais no ano que vem para a assistência social e os recursos para a educação serão mantidos integralmente, já que essa é a área principal para o desenvolvimento de uma sociedade livre.
É certo que os efeitos das novas medidas precisam ser suavizados. Mas é compreensível a mentalidade do povo inglês em buscar mudanças. Cansados do marasmo empregado pelos Trabalhistas, o crescimento dos Conservadores nas urnas era previsível, já que prometeram ações radicais contra os problemas da economia. As más escolhas de Blair e a inércia de Brown deixaram um legado confuso ao primeiro-ministro David Cameron. Para arrumar a casa é preciso sacrifícios, mas também é preciso preservar a população. No caso inglês, duas palavras são fundamentais para a solução do problema: meio termo. 
Foto: AP

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